quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

"Claudia Jones, uma pan-africanista, feminista e comunista pouco conhecida"




Claudia Jones foi uma revolucionária cujo ativismo atravessou dois continentes, a América do Norte e a Europa. Claudia Vera Cumberbatch nasceu em 21 de fevereiro de 1915 em Belmont, Trinidad e Tobago, a terra que deu origem a grandes políticos como C.L.R. James, Eric Williams, George Padmore e Kwame Ture (anteriormente Stokely Carmichael). Ela e a família foram obrigadas a migrar para a cidade de Nova York durante os anos 1922-24, como resultado das dificuldades econômicas que eles experimentaram como membros da classe trabalhadora de Trinidad.

Ela adotou o sobrenome “Jones” como medida de proteção na realização de seu trabalho de organização com o Partido Comunista dos EUA (CPUSA). A ação não era incomum, dada a histeria anticomunista e a perseguição contra os comunistas nos Estados Unidos. Claudia morreu na terra de seu exílio, Grã-Bretanha, em 25 de dezembro de 1964. Curiosamente, seu último lugar de descanso está localizado à esquerda de Karl Marx, no Cemitério Highgate em Londres.

Ela contribuiu para o trabalho do CPUSA como jornalista, editora, líder, teórica, educadora e organizadora de 1936 até a sua deportação em dezembro de 1955. Trabalhou para o jornal do partido Daily Worker, atuou como editora da revista da Young Communist League (YCL) Weekly Review, foi diretora estadual de educação e presidente estadual da YCL, tornou-se membro de pleno direito do CPUSA em 1945, e foi eleita para o Comitê Nacional da CPUSA em 1948, assumiu o cargo de Secretária da Comissão de Mulheres do CPUSA, atuou em várias funções e em outras publicações do partido. Claudia foi presa três vezes por causa de seu trabalho na CPUSA. Ela foi condenada sob o Ato Smith que visou os líderes do CPUSA e cumpriu oito meses de prisão.

O professor Errol Henderson da Universidade Estadual de Pensilvânia sobre a relevância política de Claudia Jones:

“Ela era brilhante e incisiva. Ela forneceu o componente feminista da análise marxista, juntamente com a incorporação incisiva de Haywood da "cultura negra", que ela apoiou e ampliou ... uma mente excepcional ... e sua deportação dos EUA foi uma grande perda para a luta de libertação aqui, mas um ganho para a do Reino Unido, onde ela fez mais contribuições”.

Jones usou o espaço organizacional do CPUSA para promover a causa do antirracismo, da paz mundial, da descolonização e da luta de classes. Além disso, utilizou-se de suas várias funções e recursos do partido comunista para promover a libertação das mulheres em geral, e das mulheres da classe trabalhadora afro-americana em particular.

É uma grande injustiça da história que o trabalho de Claudia Jones seja pouco conhecido entre os radicais que podem tirar lições de sua abordagem integrada para eliminar o racismo, o capitalismo, o patriarcado e o imperialismo. Neste período da política do identitarismo vulgar é fundamental para nós destacar a contribuição desta revolucionária, cujo ativismo foi guiado por uma orientação política anticapitalista, crítica, anti-opressão e anti-imperialista.

A professora Carole Boyce Davies, em seu livro: “À esquerda de Karl Marx: a vida política da comunista negra Claudia Jones”, forneceu explicações para a invisibilidade de Claudia:

“O estudo das mulheres comunistas negras continua sendo um dos mais negligenciados nos estudos contemporâneos sobre mulheres negras por inúmeras razões, Joy James identifica uma: a revolucionária permanece à margem, mais do que qualquer outra forma de feminismo negro. ‘Este tipo de negligência pela maioria dos acadêmicos feministas não é surpreendente. A maioria desses pesquisadores burgueses não são socialistas / comunistas e, como tal, não são atraídos por assuntos associados ao comunismo".

A contínua experiência de Claudia com a classe trabalhadora, e da sua família na sociedade americana, ajudou a moldar seus compromissos políticos feministas e antirracistas na luta de classes:

“Foi fora das minhas experiências de Jim-Crow como uma jovem negra, mas de experiências também nascidas da pobreza da classe trabalhadora, que me levaram a juntar-se à Liga dos Jovens Comunistas e escolher a filosofia da minha vida, a ciência do marxismo-leninismo - filosofia que não só rejeita ideias racistas, mas é a antítese delas”.

Como mulher da classe trabalhadora e africana, a experiência vivida por Claudia proporcionou-lhe uma ampla compreensão do patriarcado. O exemplo mais claro de sua compreensão e análise da opressão das mulheres africanas está presente no artigo Um fim à negligência dos problemas da mulher negra! Publicado em 1949. Muito antes do desenvolvimento da análise interseccional na década de 1970, por feministas e homossexuais afro-americanas, como expressa na Declaração Coletiva do Rio Combahee, Jones já utilizava essa abordagem para analisar as múltiplas formas de opressão que assolam a vida das mulheres afro-americanas da classe trabalhadora.

A preocupação de Jones com a libertação das mulheres se concentrou em mudar as condições econômicas, sociais e políticas desiguais destas, e não na obsessão cultural e psicológica encontrada nos atuais círculos da política de identitarismo vulgar:

“Para o movimento das mulheres progredir, a mulher negra, que combina em seu status o trabalhador, o negro e a mulher, é o vínculo vital, pois carrega a possibilidade de uma tomada consciência política elevada. Na medida em que, além disso, para que a causa da mulher negra seja promovida, ela deve ser impulsionada a ocupar seu lugar legítimo na liderança proletária negra do movimento de libertação nacional e em sua participação ativa contribuirá para toda a classe trabalhadora americana, cuja missão histórica é a conquista de uma América socialista - a garantia final e total da emancipação da mulher”.

O Estado capitalista e as corporações do Norte do globo exploram os recursos e os trabalhadores e dominam as economias e as sociedades do Sul do globo. De acordo com Davies, em “À Esquerda de Karl Marx”, “a política anti-imperialista de Claudia Jones vinculou as lutas locais de negros e mulheres, contra o racismo e a opressão sexista, às lutas internacionais contra o colonialismo e o imperialismo”. O pan-africanismo de Jones defendeu a liberdade dos povos caribenhos e africanos do colonialismo.

Na Grã-Bretanha, duas das notáveis conquistas de Claudia Jones foram a criação do Carnaval de Notting Hill e da Gazeta das Índias Ocidentais. Uma parte do epitáfio em sua lápide diz: “Lutadora valente contra o imperialismo e o racismo que dedicou sua vida ao progresso do socialismo e à libertação de seu próprio povo negro”.

Deveriam ter acrescentado: “Defensora assertiva do feminismo socialista”.

Escrito por Ajamu Nangwaya
Traduzido por F. Fernandes

Fonte: https://www.novacultura.info/single-post/2017/07/26/Claudia-Jones-uma-pan-africanista-feminista-e-comunista-pouco-conhecida

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